quarta-feira, dezembro 30, 2009

O amor


Descobri que tenho uma coisa que muita gente procura desesperadamente: o amor. Não estou me referindo ao amor a algo ou mesmo a alguém. O que tenho me parece maior, pois é um amor a nada, e por isso mesmo livre e totalmente inexplicável.
Sinto muito, mas tenho que revelar algo para os que ainda não o descobriram, pois há segredos que são por demais grandiosos para que possamos suportá-los mesmo sabendo que algo pode se perder no caminho, na revelação. Ele, o amor, não é uma pequena esfera nacarada e reluzente a ornar anéis ou brincos, nem pedra dura de beleza transparente, eterna e lapidada. Ele é totalmente sem forma, não pesa mais do que um pensamento e tem a consistência de uma respiração. Mas não a consistência de uma respiração tranqüila e cadenciada que refaz as forças e acalma: Ele é mais um arfar, como um suspiro e como tal inconstante. Ele é estranho.
Esta descoberta, a de que o possuo o conhecimento da natureza do amor, me deixou imensamente feliz. Pareço pretensioso? Às vezes me dou ao luxo! E é assim que o sinto, que o percebo. Mas na verdade mesmo, bem lá no fundo, sei que sei apenas intuitivamente. É mais uma impressão impregnada do que uma certeza lógica. Talvez ele tenha diversas formas e pesos e talvez ele se mostre diferente para cada pessoa. Ele é um e muitos ao mesmo tempo. Ele é estranho.

terça-feira, dezembro 15, 2009

Para sempre e além


Existem alguns sentimentos que parecem ter nascido com a gente, e não nos abandonam nem por um dia se quer. Ainda que não conscientes, duram a vida toda e até mais.
Eles permanecem velados até que um dia qualquer, assim despretensiosamente, eles vêm e preenchem de forma quase insuportável a tudo, vazando... Por que o sabemos más não sabemos. E se tem medo. Ainda me reconheço no espelho?
Sempre queremos nos conhecer. Saber quem se é parece funcional.
Mas eu, bem lá no fundo, naquele lugar de nossa alma que nunca ousamos ir, pois dali em diante não se sabe voltar e o que segue parece gigante e misterioso, bem nesse canto velado da alma, eu torço contra o que todos querem: eu torço para me desconhecer.

sexta-feira, outubro 16, 2009

O choro

Um dia deste eu chorei. Tem gente que acha chorar vexatório, mas como diria Clarice Lispector, dizer que chorou envergonha. Chorar não. Como não tenho mais tanto pudor com situações potencialmente inibidoras: Chorei mesmo e pronto!
E não sabia o porquê. Não era dor, tristeza, saudade ou mesmo alegria. Chorei e não sabia.
Só que depois não veio aquela sensação de alívio, de esvaziamento absoluto e o frescor de sentimentos que o “pós-choro” trás e dá ânimo a alma. Acordei inconvenientemente inchado novamente e somente então entendi: Chorei porque não sei ser diferente. Chorei porque que amo tudo mais do que acho que sou capaz de suportar, chorei porque não sei me expressar direito, chorei porque sinto tudo de uma forma tão intensa que não sei dar vazão a maior parte das vezes e então me expando além de meus limites tentando ser e me sinto como pessoa violentada e incapaz.
Às vezes me sinto como que um invólucro que tem por dentro algo muito acima de sua capacidade de comportar e está prestes a explodir, a vazar pelos poros e borrar os limites.
E não sei ser diferente. Chorei porque não sei ser.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Evolução

Queria poder voar: Não voar assim, literalmente, mas voar de mim mesmo. Sair de onde existo e do corpo que habito com obrigatoriedade.
Quem sabe assim seria completamente verdadeiro pela primeira vez?
Ter um corpo e ser humano parece tão perfeito e funcional que sempre me acomodo e desisto de sair para campos mais amplos e ventos mais ligeiros. Quem sabe eu não deva procurar por penas? Não penas grandes como de um avestruz, que as tem e nem por isso sabe voar. Mais útil seria ter asas de mosquito que ser avestruz e pôr ovos e não levantar do chão por mais que alguns segundos. Nada mais que vislumbres de liberdade e de plenitude.
Tomo fôlego e vou! Que Deus me ajude...

Suicídio...

Suicídio é quando se deixa de amar a tal ponto, que a vida fica insuportavelmente longa.