sábado, julho 17, 2010

Azul

Olho o espelho azul na margem de um lago, e o que vejo inquieta-me: Desconheço quem me olha de volta. No fundo sei que sou eu... Mas quem me lançou em águas tão profundas? Esse azul turquesa não me cai bem...
Não sei nadar direito, mas preciso seguir e o caminho é por sobre o lago. Ou por dentro dele. Não sei bem. Seguir é imperativo, quase que atávico. Tomo fôlego e me atiro n’água, sem pensar mais uma vez, sem querer. Parto rápido a braçadas, ainda que desajeitadas, mas sem medo algum. Levo no peito o coração de um gigante, e gigantes não têm medo. Senão não seriam gigantes.
Cruzo o lago e me sinto vitorioso e realizado na outra margem. Saio dele todo envolto num frio azul turquesa. Estranhei o espelho sim, mas o olhei de perto. Bem nos olhos.

domingo, julho 11, 2010

Quem sou eu?

Perguntam-me que eu sou: Eu sou feliz muitas vezes, outras vezes muito triste e outras muitas nem sei como me sinto. Falo muito, fico calado do nada e desligo no meio de uma conversa. Já quis ser muito rico, quis ser budista, físico, escritor, adulto e mais simples. Leio Clarice Lispector, Umberto Eco, gibi, Neruda, revistas e tudo que vejo pela frente. Quero saber das pessoas e dos lugares. Estudo química, física, espaço, tempo, inutilidades várias e biologia. Gosto de história e dos meus amigos. Queria ter mais tempo para mim mesmo, ligar e sair mais com meus amigos e entender o mundo. Gosto de fotografar tudo, mas não gosto de aparecer em fotografias. Amo tudo demais e desesperadamente, mas acho que não sei demonstrar direito e ninguém me entende. Sou chato muitas vezes, e outras nem consigo me controlar de tão bem humorado. Ando de avião, más não gosto. Acordo cedo e não gosto. Trabalho muito e até gosto. Vou ao cinema e adoro. Assisto pouco à TV e ouço menos música do que gostaria de ouvir. Gosto de praia, mas não me dou muito bem com o sol. Gosto do frio, mas fico gripado com facilidade. Interesso-me por tudo e me desinteresso com a mesma facilidade. Perguntam-me que eu sou: Mas quem eu sou mesmo?

segunda-feira, junho 28, 2010

Formigueiro

De alguma forma sentia que o formigueiro não era seu lar e via-se como que de outra espécie. Vive aquela perfeição matemática que não lhe motiva e a novidade parece um delírio latente, um sonho causado por alucinógeno. A realidade divide-se em cenas soltas e o novo não é premiado. Nem se sabe que o novo existe. Não se vê nada acima do telhado terroso e protetor. Opressor. Limitador.
Cumprir deveres parece tão louvável e infalível que é quase pecaminoso não seguir adiante e sem questionar.
Mas quem pode se conter após sentir o gosto do sal e do açúcar? Quem pode se furtar ao que ainda nem se sabe capaz?
A surpresa pode ser tão grande quanto o que se sonha. Pode ser mesmo grandioso. Realizar num milésimo de segundo, num único fôlego: a vida então!

domingo, junho 13, 2010

A hora


Hora de deixar de lado o que não é bonito, o que não é saudável e feliz.
Hora de se permitir aquele abraço apertado, o riso frouxo e uma fatia extra de torta de chocolate.
Hora de por as tristezas na rua, sem vergonha alguma, e abrir a porta para a solidão ir embora.
Hora daquele beijo apaixonado, de dormir agarrado e quase sufocando, mas com um sorriso que é tão verdadeiro quanto interior.
Hora de ir à praia, ao campo, ao jardim, ao clube, ao brejo, ao cinema ou ao colo da mãe.
Agora é hora de ser feliz.
Hora de viver!

sexta-feira, março 19, 2010

S.O.S.

Como esta vida pode ser longa... Ainda mais quando se tem uma ferida que não quer fechar, que não cicatriza por mais que se tome remédio e se faça curativo. Por mais que se repouse não se descansa. Não se vê a paz. Não se vê nada.
Que dias vermelhos estes que se seguem desde tanto? Cores fortes sempre me atraíram, mas levo os olhos tão cansados, tão exaustos, salgados e molhados, que tudo que quero é dormir. Tudo que quero é esquecer. Esquecer a dor, esquecer as limitações, os anseios que não se concretizam e o desejo por mudanças que tanto tenho, mas elas não se mostram plenas e esmoreço. E eu tento tanto... Estou exausto.
Tenho um coração no peito que é maior que o peito, e por isso mesmo precisa de outro corpo para habitar e assim bater compassado, livre e ritmado com um corpo maior e ideal para seu tamanho. Sim, porque um coração precisa de uma casa boa e sei que não sirvo mais de moradia para este que aqui está comigo. Eu o tenho ainda, mas não sei se sirvo para abrigo dele.
E eu, de quê preciso? Pergunto-me e não me respondo. Não me encontro mesmo procurando. Eu quero somente servir para abrigar comodamente este coração que ainda tenho comigo e que me faz ir por esta vida afora, que me faz tentar uma vez mais, unicamente pela esperança de corresponder, de crescer e servir. Vontade de ser pleno uma vez!
Eu vou tentando, e ele vai me levando por esta vida afora. Por esta vida tão longa...

domingo, fevereiro 21, 2010

A vida

Como era de se esperar, ele busca a felicidade.
Não esta que é notória e entre dentes, mas uma que é semelhante ao aço, e ainda assim tem um toque sutil e perfumado.
Não era comum estar se sentido assim: acrescido de si mesmo, aumentado e inexplicavelmente agigantado.
É um sentimento luxuoso e faz a busca parecer tão normal, tão humana...
Sempre achou que sabia perfeitamente por qual caminho seguir. E sabia. O sabia com tamanha precisão que esqueceu e a busca passou a dominar cada célula de sua existência. Cada pulsar alonga a vida, e a vida alonga a busca.
Ela, a vida, às vezes lhe parecia longa e desajeitada. Difícil mesmo de entender e de levá-la.
Era isso então: A vida é insuportavelmente pesada e só o que lhe torna suportável, às vezes, é a busca.
A busca é a vida!

domingo, fevereiro 07, 2010

Dor


E essa dor que grita e sangra feito vulcão em atividade, mas não mancha ou deixa cicatriz de espécie alguma? Tenho uma espada na garganta e sal no estômago, o que talvez explique porque não sou passível de compreensão...
Ando tão inconstante que sinto que um sopro me leva do céu ao inferno num tempo insignificantemente microscópico e por lá permaneço, sem possibilidade de salvação ou resgate imediato, ou mesmo intermediário...
Chego a pensar que não me entendem mesmo quando estou tão revelado e limpo, recém lavado de chuva e xampu de camomila.
Por que esta sensação nunca me abandona? E este vazio que vem até mesmo em momentos em que estou tão pleno e convencido. Realizado?
Qual o porquê de desligar os sentidos e pensamentos, quando acho estar ainda ideal e receptivo? Isso me traz a solidão mesmo acompanhado, e dormir não alivia o peso contido em minhas pálpebras. Por vezes chego a sentir que um colo silencioso poderia salvar um reino que não se sustenta em pernas fortes e que um sorriso pode assumir feitio de remédio ou de oração.
Sou estranho: às vezes não tenho um átimo de compreensão própria e em outras me sinto pleno, cheio de uma percepção entremeada de radicais sutilezas.
Para que serve mesmo ser entendido, ou entender-se? Por que esta necessidade de ser visto em última instância de existência? Não quero servir de adorno ou santo de oratório. Ser visto é neste caso, especificamente, ser entendido, ser revelado.
É romper com esta máscara translúcida que se fez em mim, involuntariamente.