" O mistério do amor é maior que o mistério da morte."
Escrevo eu:
Nada há a ser revelado: Ama-se, vive-se e morre-se.
Simples, perfeito e funcional, e quase sempre é o bastante.
Olho o espelho azul na margem de um lago, e o que vejo inquieta-me: Desconheço quem me olha de volta. No fundo sei que sou eu... Mas quem me lançou em águas tão profundas? Esse azul turquesa não me cai bem...
Perguntam-me que eu sou: Eu sou feliz muitas vezes, outras vezes muito triste e outras muitas nem sei como me sinto. Falo muito, fico calado do nada e desligo no meio de uma conversa. Já quis ser muito rico, quis ser budista, físico, escritor, adulto e mais simples. Leio Clarice Lispector, Umberto Eco, gibi, Neruda, revistas e tudo que vejo pela frente. Quero saber das pessoas e dos lugares. Estudo química, física, espaço, tempo, inutilidades várias e biologia. Gosto de história e dos meus amigos. Queria ter mais tempo para mim mesmo, ligar e sair mais com meus amigos e entender o mundo. Gosto de fotografar tudo, mas não gosto de aparecer em fotografias. Amo tudo demais e desesperadamente, mas acho que não sei demonstrar direito e ninguém me entende. Sou chato muitas vezes, e outras nem consigo me controlar de tão bem humorado. Ando de avião, más não gosto. Acordo cedo e não gosto. Trabalho muito e até gosto. Vou ao cinema e adoro. Assisto pouco à TV e ouço menos música do que gostaria de ouvir. Gosto de praia, mas não me dou muito bem com o sol. Gosto do frio, mas fico gripado com facilidade. Interesso-me por tudo e me desinteresso com a mesma facilidade. Perguntam-me que eu sou: Mas quem eu sou mesmo?
De alguma forma sentia que o formigueiro não era seu lar e via-se como que de outra espécie. Vive aquela perfeição matemática que não lhe motiva e a novidade parece um delírio latente, um sonho causado por alucinógeno. A realidade divide-se em cenas soltas e o novo não é premiado. Nem se sabe que o novo existe. Não se vê nada acima do telhado terroso e protetor. Opressor. Limitador.
Como esta vida pode ser longa... Ainda mais quando se tem uma ferida que não quer fechar, que não cicatriza por mais que se tome remédio e se faça curativo. Por mais que se repouse não se descansa. Não se vê a paz. Não se vê nada.
Como era de se esperar, ele busca a felicidade.

